What pôrra is it?
Aí então você resolve dar uma segunda chance, para ver se as coisas estão diferentes ou continuam como antes. É um passo arriscado, tolo até, mas que precisa ser tomado vez por outra. E já sabendo que sua opinião não interfere em muita coisa, ou seja, se na sua opinião mudou ou não, isso na verdade não importa. Enfim, é uma segunda chance.
E lá fui eu assistir a rede Globo no domingo à noite. Não digo que foi decepcionante porque as coisas permanecem como sempre foram, não vi piora significativa, nem melhora nenhuma. Num mundo com tantas coisas mudando tão rápido, é bom saber que algumas coisas permanecem como sempre foram: o Fantástico continua fazendo seu jornalismo rasteiro, com chamadas de impacto e a tentativa de criação de factóides que não sobrevivem a uma olhada menos sonolenta. A velha tentativa de fazer uma “revista eletrônica” cai por terra fragorosamente, especialmente para um público habituado a revistas eletrônicas de verdade. Mas quando você acha que não vai dar certo, aí então você é surpreendido e as coisas ficam realmente bastante piores.
A Globo ia transmitir um evento que acontece regularmente em Nova York, o Brazilian Day. Uma tentativa de suavizar o velho pedido da Liberty Lady sobre mandar os pobres e desvalidos. Pois bem, o mundo lhes mandou seus pobres, seus desvalidos, entregadores de pizza, imigrantes ilegais, traficantes e toda sorte de mulambeira que decidiu que viver num mundo melhor faria sua própria vida melhor; e aí, num arroubo de genialidade criativa, algum publicitário (isso tem que ser coisa de publicitário) teve a idéia de importar festas dos nativos, como a de São Patrício para os onipresentes irlandeses, ou então de criar uma festa para os que não haviam trazido as suas, caso desse dia “brasiliano”.
Talvez a idéia fosse juntar essa tribo num dia e fazer o máximo de barulho possível nessa data com a vã ilusão e esperança de que no resto do ano eles fizessem silêncio. Vã, como disse, porque continuam ouvindo seus cd´s no último volume em seus carros, nas portas dos prédios, em suas salas madrugada adentro (trabalhando em horários alternados e malucos, sobra-lhes a madruga para se divertir). E nem a tentação do I-Pod com seus fones de ouvido branquinhos e anódinos sacia uma turba que se socializa na bagunça e na farra, cantando alto e fazendo seus passos, que aos olhos de um redneck típico deve soar como alguma dança de guerra ou para chamar chuva. Quem mandou pedir que os mandássemos? Mandamos, e particularmente gostaria que ficassem por aí. Não fazem falta nenhuma do lado de cá e com esse pensamento servil de pequeno-ambicioso realmente deveriam continuar sendo tratados como cidadãos de terceira categoria dizendo “Yes, sir” para quem lhe abane algumas notas de dólar. Existirão exceções? Claro que sim, mas exceções não rendem assunto. Falemos dos “cucarachas” que rastejam para poder comprar uma enorme moto e um carro do ano, e que se esquecem que ao voltar para seu país os dólares acumulados fatalmente acabarão, pois a maldita moto insiste em beber – muita – gasolina e o carro demanda seguro e manutenção.
Enfim, Nova York realiza uma festa por ano para essa turma longe de casa. E tome-lhe verde e amarelo e discursos ufanistas de quem defende isso ou aquilo na política do país, sem se comprometer nem se envolver. Ou daqueles que incitam a população do país – o nosso – a não aceitar essa ou aquela patifaria, mas dito isso bem acima do Equador, com aquecimento em suas favelas yankees (alguém ainda usa esse termo?).
E a Globo ia transmitir um show realizado nesse dia. Na transmissão do Fantástico, eis que surge um teaser do programa que seria apresentado de madrugada, uma amostra dos shows que seriam transmitidos. E aí minha repulsa conseguiu ser vitaminada.
Mostraram os gêmeos xipófagos Sandy e Júnior cantando em inglês. Depois mostraram o gêmeo sobrevivente Leonardo cantando em espanhol. E depois para culminar o descalabro mostraram a banda de axé-saltitante Babado Novo cantando em inglês, uma música do Guns´n Roses!! Não entendi nada.
A festa não era pra brasileiros? Então porque cantar em inglês e espanhol? Para agradar aos vizinhos imigrantes de outras plagas que não conheciam música brasileira? E Guns´n Roses canta alguma música do Noel ou do ministro? “Llore por mim” ao invés de “Chore por mim” soa tão canastrão que nem mereceria comentários, mas como me arvoro na minha condição de articulista rasteiro, posso chafurdar no tema sem receio.
É muita palhaçada realizar um evento para os miseráveis e preguiçosos que deportamos daqui com nossa violência e falta de emprego, enviando-os humilhados e teimosos insistindo em ter uma vida que preste, e aí quando chega numa festa a eles dedicada os músicos tocam em outros idiomas. Para impressionar a maioria latina da cidade, talvez. Não para impressionar os brazucas, não poderia ser.
Nem comento a qualidade das atrações apresentadas, porque essa escalação que eu mencionei só consegue atrair minha atenção quando estou – como estava – deitado na frente da Tv e longe do controle remoto. Detesto-as ou no mínimo não as aprecio, por serem músicas que pecam pelo popularesco, pelo apelo de consumo fácil, pela gratuidade de algo que nem merece o rótulo de arte. Dizer que essa linha de frente é o quadrado mágico da música brasileira é espancar o bom gosto na porta da igreja, sem dó nem piedade e nem medo do ridículo.
Escalar essas atrações se explica porque são de apelo fácil, justamente o que me desperta engulhos, mas o povo gosta, compra, consome e canta a plenos pulmões seus hits e composições. Mas – suprema traição – os artistas populares lá aparecem e ao invés de cantar algo que faça os deportados lembrarem de suas casas, do barulho do riacho, dos passarinhos e de qualquer outra platitude beócia, os infelizes se metem a cantar em outra língua.
E a loirinha fagueira ainda comete uma música de uma banda tipicamente americana e – sei que vou levar pedrada por isso – boba. Sim, sei que foi moda e consumida em grandes bocadas, mas isso já passou e a banda de Mr. Rose hoje em dia não serve nem como piada atrasada. Ou alguém ainda acredita em democracia chinesa?
Mas numa coisa agora percebo meu engano, pois agora consegui entender a quem querem impressionar cantando em outros idiomas: ao público presente. Isso mesmo, aos pachecos! Com essa escalação cantando em língua de "primeiro mundo" tentam - e conseguem, aposto! - impressionar os brazucas! Sentem-se tão seduzidos pelo “primeiro mundo”, claro que seriam facilmente enlevados ao ouvirem hits radiofônicos e outros nem tanto, mas cantados em inglês ou espanhol. Quem estava ali para ouvir a porca música brasileira? Queriam, isso sim, ver que seus artistas conseguem se expressar nas línguas ricas e vivas do mundo, e não no nosso atabalhoado e cheio de regras português.
Confirma-se o comportamento colonizado, rasteiro e submisso dessa sub-espécie que é esse tipo de expatriado. Se seus artistas cantam em inglês, são ainda maiores e melhores do que se era deles esperado, pois conseguem se expressar nos idiomas que grassam e dominam – naturalmente – a cidade rica e envidraçada que agora lhes serve de pouso.
Merecem esse espetáculo pobre, a ridícula alegria fast-food de apresentadores globais que estavam ali a passeio, exercitando seu talento (?) trazendo o povo na mão como se cantassem os lances de um leilão de quermesse. Artistas (?) que lhes reverenciam o comportamento minúsculo e reforçam sua atitude de patriotada, e não de patriotismo.
“Brazilian day” my ass!!
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Eduardo Mesquita, O Inimigo do rei
3 Comentários:
Brazilian Day, um paradoxo do tamanho de uma avenida da Big Apple. Veja só, um dia pra exaltar a brasilidade de um monte de brasileiros expatriados. Ah, ah, ah.
Mas nesse dia eu fico feliz, pois pelo menos uma vez vejo que o Brasil se iguala ao governo do Sr. Bush, que invade um outro país pra torturar os nativos.
Nesse dia, a gente coloca o lixo pra fora.
Puxaaaa.....vc dissertou perfeitamenteo que eu senti ao ver aquelas imagens bizzaras....eu falo disso ateh hj...mas me dá a devida atenção....acham que to pirando...mas eu naum sou louca...prova disso eh seu blog...tah aí...vou esfregar na cara de todo mundo que torceu o nariz pra minha crítica....
Bjusmagrawow!!!
(sic)ninguém
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